Sempre que surgem mudanças em como as pessoas se comunicam, surgem os alarmistas: “Nossa, vai acabar com o Twitter…” ou “a nova revolução industrial…” e, com o tempo, esses discursos vão esfriando na medida que enchem os bolsos de meia dúzia neste mercado.
Mas, neste cenário de novidades “revolucionárias” anuais, como um profissional de comunicação ou marketing deveria enxergar ou até analisar?
Obviamente, ignorando e não replicando discursos alarmistas, por mais lucrativos que sejam para alguns e, não tão óbvios assim. Comece pela análise dos interesses dos principais envolvidos que, no caso do Threads, são os usuários, o Meta e o Twitter, bem como seus respectivos proprietários.
Para entender o interesse dos envolvidos, e simplificar, vamos separar os usuários em dois grupos: os que vendem e os que consomem, já o Threads (Meta) e o Twitter estão no mesmo grupo de interesse. O Threads e o Twitter querem suas informações pessoais; os usuários que consomem querem apenas uma solução/ satisfação, já os usuários que vendem querem apenas o Lucro.
A partir disso, fica mais claro e já é possível entender alguns movimentos neste imenso jogo que é o mercado da comunicação social e das grandes empresas de tecnologia, mas vou colocar aqui a minha interpretação sobre o Threads:
Ocorre que, desde a atualização implementada pela Apple em seus dispositivos, na mudança para o IOS14, as informações dos usuários, que representam uma imensa fatia dos usuários de redes sociais no mundo, foi limitada.
Até este momento o Meta (dono do Threads, Instagram, Facebook e WhatsApp) tinha acesso a informações precisas e preciosas sobre os usuários, e ele usava isso para entregar anúncios extremamente direcionados dos usuários, além de fomentar muito as vendas dos usuários das redes sociais que citei acima para outros usuários que buscavam uma solução/ satisfação.
Com a restrição imposta pela Apple, as campanhas ficaram mais caras para os usuários que queriam vender e passaram a vender um pouco menos também, o que pesou e causou uma pequena queda de receita do Meta.
O Threads, se analisar em sua loja de aplicativos, tem uma coleta de dados vasta e coleta, inclusive, informações de sua agenda e movimentações financeiras, além de informações sobre sua saúde física. Veja:
Com essas informações, o poder de entrega de anúncios personalizados aumenta exponencialmente.
O Meta sempre teve condições técnicas e estruturais para criar uma rede social como o Twitter, isso não é nenhum segredo, mas para além do óbvio, considere que, mesmo sendo dono do Facebook, a maior rede social do mundo, o Meta optou por comprar o Instagram e o WhatsApp, ao invés de criar uma alternativa “melhor”, isso porque não é fácil ter adesão dos usuários, já que essa adesão ainda é mais via orgânica do que impulsionada por companhas.
Com isso em mente, e considerando a turbulenta compra do Twitter pelo Elon Musk e consequentes demissões, crises éticas, mudanças não aprovadas por usuários, etc., o Meta observou uma demanda no mercado e uma oportunidade de fazer os usuários do Twitter migrarem para sua plataforma.
Com isso, o Meta resolve 2 grandes problemas: a coleta de dados que detalhei acima; e, se tiver sucesso, em pouco tempo elimina um concorrente, o que traria mais “tempo de tela” para suas plataformas e, assim poderia apresentar mais propaganda e lucrar mais também.
A melhor atitude é tratar isso como “mais um”, simples assim.
Pense que este alarme de “revolução da comunicação” surgiu ao longo da nossa história muitas vezes, foi assim com as Grandes Navegações, com o Telégrafo, Telefone, Internet no início da década de 1970, com as redes sociais há uns 15 anos, etc. E hoje em dia essas tecnologias ou são obsoletas ou só um mais uma em nosso dia-a-dia.
Mas uma coisa nunca mudou, uma coisa continua viva e só se potencializa na medida em que avança as tecnologias de interações sociais, dá pra dizer mais… Isso é o principal objeto de estudo e atuação dos profissionais de Comunicação e Marketing: as pessoas e suas dinâmicas.
Especificamente destaco essas dinâmicas, que são: o interesse do indivíduo que acaba por agrupá-lo em públicos; o comportamento, o sentido ou sentimento que são despertados a partir de cada estímulo criado intencionalmente ou não pelas ações de marketing e comunicação e o relacionamento entre usuários.
Vou fazer um recorte e destacar o “comportamento do usuário” já que estamos falando de rede social. Explico… O comportamento do usuário é o que os algoritmos monitoram com mais afinco, seja o de rede social ou de buscadores como o Google, seja ele do tráfego orgânico ou pago, os algoritmos sempre analisam padrões de comportamento para entregar conteúdos e anúncios mais precisos, em resumo (pouco polido, porém didático), o algoritmo acerta o conteúdo que te agrada porque ele analisou o comportamento de uma pessoa semelhante a você. No tráfego pago o termo para isso é “look a like”.
Portanto, como profissionais, devemos nos atentar para o interesse dos envolvidos e com isso atuar de forma mais precisa e eficiente também para não ser o profissional da “tentativa e erro”, do qual o sucesso depende da sorte. Como profissionais devemos nos apoiar em análises e técnicas que nos garanta 60, 70, 80% de chances de sucesso, pois uma chance de 50% ou menos é o mesmo que jogar cara ou coroa, é contar com a sorte e isso não é nada profissional.
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